Autor: Mário Ferreira

Professor Doutor, Escola Superior de Desporto de Rio Maior – Instituto Politécnico de Santarém, Portugal
Membro Integrado do Centro de Investigação em Qualidade de Vida, na área científica Comportamento Motor

 

O projeto de investigação sobre a “Incidência e Prevalência de Lesão no Futebol Português” encontra-se em fase de desenvolvimento, contando ainda com a colaboração de outros membros integrados do Centro de Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV), nomeadamente o Professor Doutor António Vences de Brito, o Professor Doutor Félix Romero e o Professor Doutor Nuno Loureiro.

A concretização deste projeto surgiu na sequência do interesse generalizado em determinar, conhecer e dominar as variáveis que interferem no processo de treino e que poderão condicionar o rendimento desportivo e a saúde das populações envolvidas na prática desportiva.

O estudo das variáveis que influenciam o treino desportivo, positiva ou negativamente, é uma preocupação constante dos investigadores e dos treinadores. O treino, os seus conteúdos e forma, os atletas nele envolvidos, o rendimento atlético e a prática desportiva como forma de vida saudável, fazem parte integrante das variáveis que determinam a busca incessante de conhecimento, onde se enquadram também as resultantes traumáticas desta prática.

O estudo das componentes traumáticas da prática desportiva, especificamente as que possam ser tipificadas no futebol, poderá conduzir a metodologias de treino mais adequadas e preventivas no que diz respeito à lesão desportiva, permitindo incrementar o rendimento atlético e o estado de saúde do(a) praticante de futebol.

O futebol é uma modalidade caracterizada pela ocorrência de contato e pelo desempenho de habilidades motoras específicas em diferentes intensidades, incluindo-se as corridas, saltos, sprints, remates, mudanças de direção e quedas, com diferentes exigências ao nível das capacidades motoras (Hoff, 2005).

A prática regular de futebol pode induzir efeitos benéficos para a saúde, todavia existem potenciais fatores de risco para o surgimento de lesões nos seus praticantes (Faude, Rößler, & Junge, 2013). Assim, o risco de lesão em praticantes federados de futebol, deve ser uma preocupação durante o treino e competição, bem como as suas repercussões no tempo de inatividade (Parry & Drust, 2006).

Uma característica essencial da atividade desportiva consiste na orientação tendente à obtenção do resultado máximo. Esta busca constante pelo rendimento máximo impõe aos jogadores a necessária e inevitável condição de serem submetidos a esforços muito próximos dos seus limites fisiológicos, expondo-os consequentemente a uma faixa de atividade potencialmente patológica, resultando em diversos tipos de lesões desportivas. Neste contexto, a ocorrência de lesão pode influenciar negativamente o rendimento coletivo da equipa e os resultados desportivos (Hägglund et al., 2013), devido à incapacidade dos atletas para treinar e competir. Face ao exposto, emerge a necessidade de definição de estratégias para a prevenção da ocorrência de lesões, especialmente aquelas que possam impedir a participação no jogo e em outras atividades físicas, por períodos prolongados, de forma a garantir a saúde e a segurança dos praticantes de futebol (Jones et al., 2019).

A diversidade de estudos realizados sobre as lesões desportivas no futebol têm sido fundamentais para o conhecimento sobre a prevalência de lesões, os locais anatómicos mais lesados, os mecanismos causadores das lesões, bem como a importância da prevenção da sua ocorrência com o intuito de melhorar o processo de treino desportivo. Embora diversos estudos tenham incidido sobre esta problemática (e.g., Brito et al., 2012; Materne et al., 2020; Monasterio et al., 2021), verifica-se a carência de uma análise mais abrangente sobre a incidência de lesões em atletas portugueses de todos os escalões etários, de ambos os sexos, de diferentes níveis competitivos e por posição em campo.

A identificação do perfil de lesão dos jogadores masculinos e femininos, por posição em campo, escalão e nível competitivo, permitirá a definição de estratégias com vista à melhoria do processo de treino, direcionado a uma intervenção de carácter preventivo junto dos próprios atletas, treinadores e das entidades responsáveis pela promoção e desenvolvimento da modalidade. A prevenção como um meio para um decréscimo da incidência de lesões, tem como implicação direta evitar ou reduzir o período de afastamento da prática de futebol, o que em atletas de alto rendimento acarreta custos desportivos e económicos acentuados para os diversos agentes envolvidos na modalidade.

 

Artigo publicado na Newsletter de maio-junho de 2021 do CIEQV